Prefiro sentir do que somente falar e chorar

Quando eu me mudei pra São Paulo, não pensei muito em como seria. No fato de ser uma cidade insanamente maior do que a minha (que tem 80 mil habitantes!), ou de eu nem saber como ia me sustentar, ou de eu não conhecer alguém que já morasse aqui e pudesse entrar na categoria “chamar em caso de emergência”, ou de tudo o que poderia me acontecer ao me mudar pra uma cidade nova.

Eu estava tão ocupada vivendo a felicidade do momento que nada dessas coisas passaram pela minha cabeça. Era tudo excitante, diferente, instigante. Todos esses sentimentos eram muito maiores do que o medo de que algo ruim pudesse acontecer.

Prefiro sentir do que somente falar e chorar

Depois de um tempo, isso foi mudando. Eu não sei ao certo o que motivou isso (será que foi a pressão? a idade?), mas eu comecei a deixar o medo que habita esse cidade ir tomando conta, tomando conta e cheguei a me perguntar quanto tempo mais eu ia aguentar ficar daquele jeito. E tudo na minha vida passava por mim como um borrão. Sem me marcar, sem me fazer sentir muita coisa, boa ou ruim.

Na mesma época, li um texto da Eliane Brum, em que ela falava sobre antidepressivos, e em como, pra viver a vida que estipulamos pra nós, no ritmo alucinado de hoje, muitas vezes precisamos de remédios. No texto tinha uma expressão que era algo como “máquina humana”, e que tinha a ver com o fato de que precisávamos passar por cima de qualquer sentimento ou emoção pra poder (sobre)viver, porque não tínhamos tempo de lidar com aquilo e estava vendo um filme sobre cosplay.

Esse texto me marcou demais, e vira & mexe ele volta a piscar na minha memória. Embora eu não tome remédios (e entendo e respeito a necessidade deles, claro), essa leitura foi muito importante na época pra eu voltar a entender que viver tinha disso. Tinha dor, tinha medo, tinha insegurança e tinha incertezas. Têm, ainda. Eu fiquei aterrorizada de um dia não conseguir mais viver minha própria vida, do meu jeito, por conta própria, e fui conseguindo, aos poucos, lidar de novo com essa sensação do “não fazer ideia do que raios pode acontecer”.

Mais ainda: fui buscar lá no fundo o prazer que eu tinha em simplesmente sentir. Trouxe de volta a menina de 19 anos destemida e cheia de sonhos, sem medo de ser (feliz ou infeliz) e sentir.

Mas às vezes esse medo volta. E eu fico paralisada, emperrada, não saio do lugar. É um exercício, todas às vezes, de me lembrar que eu QUERO sentir. Que me faz bem. Que é uma das melhores coisas da vida. Afinal, qual a graça se é tudo igual? Se o feliz é igual ao triste? Se um dia normal é igual ao dia em que você recebe a melhor notícia da sua vida? Se toda vez que você conhecer alguém, você parar antes de chegar ao desconhecido?

Se sempre ficamos presos ao que conhecemos, sem buscar novas experiências, novos sentidos pra vida… ela perde o sentido.

E o bizarro é que enquanto em algumas coisas da minha vida eu tenho muito medo do que pode acontecer, como contei naquele post, em outras eu simplesmente não tenho medo nenhum. Eu escolho, deliberadamente, sair da minha zona de conforto pra vivenciar coisas novas, pra passar por experiências, quaisquer que forem, engraçadas, estranhas, diferentes, inusitadas, mesmo que isso signifique que eu possa sofrer, talvez, quem sabe. Mas é uma escolha. Talvez impulsionada pelo meu signo de Fogo, vai saber.

Descobri que sou uma pessoa que prefere sentir tudo, a não sentir nada. Mesmo que doa. Mesmo que eu chore ou que entre em contato com emoções que eu nem sabia que tinha. Porque ao final do dia, mostra que estou aqui, estou viva, o sangue está correndo nas veias e não estou simplesmente passando pelos dias, um após o outro, como se fossem todos iguais.

Tem uma música do “The Lumineers” com uma frase que eu amo: “It’s better to feel pain than nothing at all” (É melhor sentir dor, do que não sentir nada). Parece loucura a gente preferir sentir dor a não sentir nada, mas a ideia de não sentir nada me assusta muito mais. Ser sempre um quadro em branco. Um mar sem ondas ou maré. Um céu que não muda de cor. Aquele dia em que o ar tá parado e nem venta. Dormir e acordar e dormir e acordar sem nem lembrar como foi o último dia. Eu não quero isso pra mim. Quero coração pulsando. Sentindo. Vivendo.

Bisous mil!

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